segunda-feira, 15 de novembro de 2010

POEMA SOBRE O DESAPEGO



Vou falar de um sentimento, o desapego.
De todas as palavras esta é uma que arrepia,
DESAPEGO.
Uma coisa é falá-la, outra coisa é vivê-la.
Resolvi tomar tal palavra por exercício.

Rasguei as cartas que me mandaram,
doei os livros que me serviam.
Tentei doar tudo que pude e prosseguir nua.
Mas não consegui seguir viagem.
Quantos cacarecos no coração dependurados.

Ao fogo rascunhos e publicações,
memórias, máquinas e sentimentos ao pó.
Porém instiga-me o que me sustém em pé.
O Desapego
não tem regras fixas, anda solto
num caminho bem além das palavras.

Fiquei no vazio com sentimentos desregrados.
“Acabei por achar sagrada a desordem de meu espírito”.
Rezei a poesia, rezei o dia-a-dia, rezei o sem-nome.
O desapego me passou um tropeço, virei do avesso.
Possui cada sol, cada gota de orvalho.

Estou cheia de posses. Possuo um mundo, um fundo.
Carrego o grão que me cabe em sacolejos.
O pão é do supermercado, e o pão é do espírito.
Estou doente, a doença não temo.
Destemor é o presente que me deu o desapego.


Francine Machado

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